Seria simples se todos nós tivéssemos o mesmo sangue. Mas nós não temos! Na superfície de cada uma das nossas células vermelhas do sangue, têm até 342 antígenos - moléculas capazes de desencadear a produção de proteínas especializadas chamadas anticorpos. É a presença ou ausência de antigénios específicos que determinam o tipo de sangue de uma pessoa.
Cerca de 160 dos antígenos do grupo sanguíneo 342 são "de alta prevalência, o que significa que eles são encontrados nas células vermelhas do sangue da maioria das pessoas. Se você não tem um antígeno que 99% das pessoas no mundo possuem, o sangue é considerada raro. Agora se você não tem um que 99,99% das pessoas possuem, então você tem sangue muito raro.
Se um antígeno de alta prevalência em particular está em falta a partir de suas células vermelhas do sangue, então você é "negativo" para aquele grupo sanguíneo. Se você receber o sangue de um doador "positivo", em seguida, seus próprios anticorpos podem reagir com as células do sangue de doadores incompatíveis, provocando uma resposta do sistema imunológico. Estas reações de transfusão podem ser letais.
Porque tão poucas pessoas têm, sangue raro quase nunca é necessário. Mas quando é, encontrar um doador e tirar o sangue para um paciente em crise pode se tornar uma corrida desesperada contra o tempo. É quase certamente envolverá uma rede internacional complicada de pessoas que trabalham de forma invisível por trás da agitação da doação de sangue "comum" para rastrear um doador em um país e voar com um saco de sangue para outro.
Há 35 sistemas de grupos sanguíneos, organizados de acordo com os genes que carregam a informação para produzir os antígenos em cada sistema. A maioria dos antigénios do grupo sanguíneo 342 pertencem a um desses sistemas. O sistema Rh (anteriormente conhecido como "Rhesus") é a maior, com 61 antígenos.
O mais importante destes antígenos Rh, o antígeno D, é muitas vezes ausente em caucasianos, dos quais cerca de 15% são Rh D negativo (mais comumente, embora imprecisamente, conhecido como sangue Rh-negativo). Mas Thomas parecia não ter todos os antígenos Rh. Se essa suspeita estivesse correta, faria seu tipo de sangue Rh nulo - um dos mais raros do mundo, seria uma descoberta fenomenal para os hematologistas do hospital.
O Rh nulo do sangue foi descrito pela primeira vez em 1961 , em uma mulher aborígene australiano. Até então, os médicos assumiram que um embrião faltando todos os antígenos de células do sangue Rh não iria sobreviver, e muito menos se transformar em um próspero adulto normal,. Até 2010, quase cinco décadas depois, cerca de 43 pessoas com Rh nulo haviam sido relatadas em todo o mundo.
Incapaz de acreditar no que estava vendo, o Dr. Marie José Stelling, então chefe da hematologia e hematologia imunológica do laboratório do Hospital Universitário de Genebra, enviou sangue de Thomas para análise em Amsterdam e depois em Paris. Os resultados confirmaram as suas descobertas: Thomas tinha sangue com Rh nulo. E com isso, ele instantaneamente se tornara infinitamente precioso para a medicina e a ciência.
E porque o Rh nulo pode ser considerado sangue 'universal' para qualquer um com tipos sanguíneos raros dentro do sistema Rh, sua capacidade de salvar vidas é enorme. Como tal, também é altamente valorizado pelos médicos - embora possa ser administrado a pacientes apenas em circunstâncias extremas, e depois de cuidadosa consideração, porque pode ser quase impossível de substituir. "É o sangue de ouro", diz o Dr. Thierry Peyrard, atual Director do Laboratório de Imunohematologia de Referência Nacional em Paris.
Grupos sanguíneos são herdados, e Rh nulo. Então, o próximo passo para os hematologistas em Genebra foi testar Thomas e sua família na esperança de encontrar outra fonte, já que Thomas não seria capaz de doar até que ele completasse 18 anos. As coisas pareciam ainda mais esperançosas quando descobriu-se que os avós de Thomas eram primos de terceiro grau. Mas os testes mostraram que o Rh nulo no sangue de Thomas era devido a duas mutações aleatórias completamente diferentes em ambos os lados. O puro acaso, duas vezes, em face da infimamente pequenas chances.
Em nível de sangue Thomas é diferente do resto de nós. Em outras palavras, como o filósofo francês Simone Weil observou, toda separação é um link.
E o sangue diferente de Thomas deu-lhe a inesperada vantagem ímpar. Quando ele foi convocado para o serviço militar obrigatório, o médico que primeiro lhe falou sobre seu sangue - Dr Marie José Stelling - escreveu ao exército dizendo que era muito perigoso para ele fazer o serviço militar, por isso ele foi dispensado. Ao longo dos últimos anos 40 anos, Thomas e Stelling desenvolveram uma relação particularmente estreita. No ano passado ela se juntou a ele e sua família e amigos para comemorar sua festa de aniversário de 50 anos em um barco no Lago de Genebra. "Ela foi muito gentil", diz Thomas. "Ela viu o aspecto humano de ser Rh nulo - e não apenas uma bolsa de sangue. "
Fontes:
http://mosaicscience.com/story/man-golden-blood
http://mosaicscience.com/story/man-golden-blood
http://news.sciencemag.org/sifter/2014/10/the-story-of-a-man-with-golden-blood
