A maior parte dos textos disponíveis na internet sobre moscas-das-frutas dão a entender que estes bichos servem apenas para dar prejuízo em grandes plantações, já que são considerados pragas agrícolas severas. Entretanto, não é só esse papel que estes insetos desempenham.
Existem dois tipos de moscas-das-frutas: as da família Tephritidae e as da família Drosophilidae. As Tephritidae tem um corpo rígido e um ovipositor avantajado nas fêmeas para facilitar a postura de ovos em frutos de casca mais grossa. O desenvolvimento da larva dentro do fruto em formação causa o amadurecimento precoce, além do apodrecimento da área do fruto afetada pela oviposição. Antes mesmo de ovipositar, as fêmeas podem testar a casca do fruto, deixando marcas que impossibilitam o comércio ou o consumo deste fruto.
Por outro lado, as moscas da família Drosophilidae já são velhas conhecidas das pesquisas genéticas, em especial a espécie Drosophila melanogaster, muito estudada pelo embriologista Thomas Hunt Morgan. As Drosophilidae contribuíram de forma significativa para o avanço das análises genéticas por serem de fácil captura, pois são encontradas tanto em florestas quanto em ambientes urbanos; por serem fáceis de criar em laboratório, e também por terem seu ciclo de vida curto (de 3 a 7 dias, para a maioria das espécies) o que possibilita que os resultados dos experimentos realizados com elas sejam rápidos e possam ser repetidos.
Drosophila melanogaster, espécie da família Drosophilidae (Fonte: Google Imagens) |
Além de serem ótimos objetos de estudo da genética, os drosofilídeos são também bons bioindicadores de degradação ambiental, pois são extremamente sensíveis a mudanças no meio ambiente. Alterações em fatores abióticos como luz, temperatura e umidade podem ser cruciais no ciclo de vida e na composição de espécies de um determinado local, facilitando aos pesquisadores que encontrem fragmentos de hábitat e possam administrar medidas de regeneração ambiental. Os danos que os drosofilídeos causam aos agricultores são menores comparados aos tefritídeos, pois as fêmeas não possuem um ovipositor específico para perfurar cascas de frutos duros, ou seja, só ovipositam em substratos macios nos quais as larvas possam se desenvolver.
De maneira geral, ambas as famílias de moscas-das-frutas desempenham diferentes papéis no meio ambiente, e cada um tem sua importância, seja econômica ou científica.
Referências:
ANTONINI, Y. et al. Insetos. In: MMA - Ministério do Meio Ambiente. Fragmentação de
Ecossistemas: Causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de políticas
públicas.2ª ed., MMA/SBF. 2005.
CHOWN, S.; NICOLSON, S. Insect Physiological Ecology: mechanisms and patterns.
Oxford University Press, 2004. 254 p.